terça-feira, 7 de outubro de 2008

Tapa na cara.




O jornalista nada mais é do que um contador de histórias. Desde as mais interessantes às mais comuns. Das mais tristes às mais alegres. Das mais simples às mais fantásticas. Uma profissão onde autor e personagem se fundem. Não tem como ser diferente.


Há mais de mil dias, acordo e vou dormir pensando em jornalismo. E nestes mil dias e lá vai pedrada, chorei apenas uma vez: quando a menina Paola Sartori morreu em Dois Irmãos, na véspera de Natal, na boca de um rottweiller. Um epísódio, que com certeza, estragou por completo o meu 24 de dezembro. E destruiu ali a vida da pequena Paola, uma criança inocente morando ao lado do perigo iminente. Mas minto. Eu TINHA chorado uma vez só.


Há cerca de um mês, a rádio se envolveu na campanha do Dudu. Os amigos do "Dudu", que ganharam mais amigos, que se empenharam em salvar a vida do guri, que aos seis anos descobriu uma leucemia tipo raro. Os pais do Dudu lançaram a campanha, os amigos abraçaram e salvar o Dudu virou mais do que uma pauta: virou uma questão de honra.


E na sexta passada, quando a gente foi pro estúdio, quando tudo parecia normal, a notícia pronta pro noticiário - salve uma vida, dizia o texto na lauda - o colega entra e sinaliza que o Dudu se foi. E na hora me veio aquele sentimento de impotência, de perda, de fracasso. E a sensação minúscula de que somos tão idiotas quanto parecemos ser, porque tem dias em que nos achamos o máximo e em outros, tu te vê exatamente como é: mais um, querendo o mundo e não podendo nada.


Perder o Dudu foi como uma foice nas pernas e eu nem quero imginar o que isso significou para os pais. Os mesmos pais que estavam um dia depois na praça da cidade, na campanha de medula óssea que se manteve.


E enquanto a rua estava lotada de bandeiras e besteiras eleitorais, centenas de pessoas estavam na fila, esperando horas para colher o sangue que não se compatibilizaria mais com o Dudu, mas que, com certeza, irá salvar outras vidas. E mesmo nos sentindo tão idiotas às vezes, penso que em alguns dias a gente se sente bem. São em momentos como este que sentimos que a vida vale sim à pena.


Mesmo que a pena não seja assim tão viva.

Mesmo quando a vida não sinaliza e não acena.