sexta-feira, 24 de abril de 2009

Susan, a feia




Sim. Desprovida de qualquer beleza, acima do peso, cabelo mal cuidado, o patinho feio. A mulher que arrancou risos de uma plateia acostumada com grandes ídolos. Ah, Susan, que de tão bizarra chocou até os jurados de um famoso concurso britânico de talentos. Susan, sim, com sua melhor parte, a mais feia, a mais fora dos padrões. Susan. A mulher que deu um tapa de luva no mundo. Susan.


Tímida, 47 anos, nunca foi beijada. Uma mulher como tantas outras, carente de uma única chance, que chegou quase aos 50, mas chegou. Sim, agora o mundo conhece Susan, a dona de uma voz que arrepia nos primeiros acordes. Susan, escocesa, interiorana, roupas desalinhadas. A verdadeira Cinderela dos tempos modernos.


Mas aqui não comento o vídeo que circula na internet, com sua interpretação brilhante de "I dreamed a dream". 22 antes, está divulgado um outro vídeo, quando em uma reunião familiar Susan canta para os parentes. O mesmo estilo, o mesmo cabelo desgrenhado, a mesma maneira de ver o mundo. Solitária, ainda que cercada de muitas pessoas. Perdida na própria música, cantando para se alegrar. Um dom raro, de rara beleza. Susan e sua voz que nem os pássaros ousam imitar. Na própria solidão, enchendo a sala com tudo que há de melhor no mundo: a música.


E porque não pensar, que muitas Susan´s habitam o mundo, num solo que não ecoa a ninguém. Susan, olhos pequenos e apagados, ganhou mais do que qualquer um poderia ganhar. Para os jurados, um novo talento, um diamante bruto a ser lapidado. Para quem estava na plateia, um raro talento que fez chorar e arrancar sorrisos atônitos.


Para Susan, apenas a sensação de ter sido vista pela primeira vez em toda a sua existência.
O palco virou para ela o centro do Universo: finalmente, ela era alguém.
Susan é um ser humano agora.


Ao contrário de muitos de nós, ela conseguiu ser vista pelo mundo.
Mas conseguiu provar a si mesma, antes de todos, que poderia.
Nem que fosse por um único segundo.

sábado, 18 de abril de 2009

Piedade




Quando um grande crime movimenta a cidade - principalmente quando ocorre na "high" hamburguense - ficam os dois lados da moeda: de um, a imprensa, preocupada em narrar os mínimos detalhes. Do outro, familiares, amigos, fechando os ouvidos e os olhos para o que é repassado pelos veículos de comunicação. É uma adrenalina dos dois lados. Interesses diferentes. Geralmente, a imprensa compreende os familiares, ainda que na maioria das vezes sejam denominados de "urubus". A família não compreende o trabalho dos jornalistas. E aqui cabe, não estou fazendo uma crítica. O bom repórter compreende que a família está dolorida. E não há como deixar de respeitar um momento como esse.


Quando o Maheus, operador da rádio ABC, me ligou às 06:04 da manhã de quarta, foi direto ao ponto: mulher matou irmã e sobrinha na Vila Rosa. Naturalmente, mesmo que quisesse, eu não conseguiria dormir de novo. Me aprontei rápido e fui pra lá. No primeiro boletim, peguei as informações com um sargento da Brigada. Na hora, não liguei os pontos. Só depois de chegar ao prédio, um luxuoso condomínio, me dei por conta de quem estávamos falando. Conheci a Roselani há cinco anos, quando trabalhava em uma agência de publicidade. Sim, naquela época a empresa já estava quebrando, mas ainda assim, a pose era a sempre a mesma.


Mas não quero aqui julgar a prepotência ou a depressão da empresária. É muita hipocrisia da parte das pessoas apontar agora uma mulher que cresceu em valores distorcidos. Na carta, ela se refere à mãe como "amarga". O pai se matou há alguns anos. A sobrinha, antes de morrer, se queixou à tia por não ter "uma mochila de marca". Toda a família parecia viver o Deus Dinheiro. E esse Deus é tão benevolente como maquiavélico.


Da história todos sabem, nos mínimos detalhes, por isso não vou aqui contá-la de novo. Mas ontem, três dias depois, quando a imprensa passa a buscar os últimos refugos do caso, localizamos o pai de Maria Francisca, um obstetra canoense. Quando liguei para o consultório, me passaram para um tal Cristiane, que foi concisa:


- "Cristiane, te peço que tenha piedade desta família. Já fomos massacrados pela tragédia, já perdemos nossa Chiquinha, já fomos esmerilhados pela imprensa. O que vocês querem? Só peço isso: PIEDADE." E desligou.


Naquele momento, me envergonhei de ser repórter. Sei que este é um pensamento passageiro, pois continuarei a contar histórias. Mas todo jornalista precisa disso para voltar os pés ao chão, desprendido de seu ego aniquilador. Estamos falando não só de Maria, Rosângela e Flávio. Estamos falando de muitas pessoas ligadas a eles. Incluindo uma mãe que vive sedada desde então, após ver uma filha matar a outra.


Aos que batem nas panelas da justiça, a outra personagem, Roselani, que de madame passou a malvada, terá sim, o seu pior castigo. Para ela, o martírio será continuar viva.


Por fim, digo agora, de cabeça fria, que o crime choca e revolta, mas não espanta. Novo Hamburgo está cheia de famílias com sobrenome bonitinho e fábricas falidas. E como se orgulham disso! Basta ir às famosas festas da "nata". Devem mundos e fundos. Mas perder a coluna social... jamais.

sábado, 11 de abril de 2009

Academia do povo




Não sei bem onde começou minha paixão pelo Inter. Nunca fui ligada em futebol, mesmo tendo nascido colarada. Minha irmã é que me colocou no mundo do fanatismo. Só fui conhecer o "Bera" em abril do ano passado, quando um grande amigo me levou até lá. E já passei por situações tão maravilhosas lá dentro... O Beira é um templo. Depois de muitos anos, foi lá que eu revi uma estrela cadente, foi lá que me apaixonei por este time, me apaixonei por tantas coisas... o vinho na entrada, fotos, coração batendo. O Inter é mesmo o sinônimo da paixão. E não é à toa que muitas paixões começam lá dentro. E dificilmente acabam aqui fora. O Gigante é como se fosse um caldeirão aconchegante.


Mas no último Gre-Nal, eu nem estava preparada para ir quando meu primo me ligou. O Matheus já foi dando as coordenadas e tudo que eu fiz foi resgatar minha camisetinha batida do armário. Mas ele já foi avisando: vamos pra POPULAR. Ah.. a POPULAR que eu só via de longe, sentadinha nas cadeiras sociais, onde um bando de bundinhas, ainda que colorados, fica vaiando o time qdo um tropeço é registrado... Pensei: e porquê não?


E lá fomos nós, num chuvisco daqueles chatos "molha chapinha", uma brigaçada na rua, estacionamos perto do Gigante e nos tocamos pra Guarda, antes das 3 da tarde, quando o jogo só começaria às 5... mas era preciso chegar cedo pra "pegar um lugar". Aos poucos, aquela massa colorada foi chegando, e AI! de quem não estivesse cantando, porque aquele era o lugar de hinos e glórias, e não de assistir a partida. E enquanto os azuizinhos se esgualepavam pra pegar a bola, o Inter deita e rola, mostrando que esta terra tem mesmo patrão.


E talvez pela empolgação, nem vi quando ele se aproximou. Corpinho mirrado e moletom sujinho, ele veio se chegando de mansinho, pra ver o jogo e o time passar. Mal tive coragem de reclamar. O guri não pagou a entrada, subiu uma baita escada e foi pra Popular. Se encostou na grade e me olhou de mansinho, como que justificando a invasão.


- Oi!

- Oi (tímido...)

- Como é que é teu nome?

- Bruno.

- Espero que tu sejas colorado, Bruno! Se não te jogo ali no campo! (risos)

- Sou sim, tia!!!!! (justificando).

- Ótimo, então te gruda aqui que o bicho tá pegando!

- Ahhhh (olhar extasiado pro campo)

- Tia, quem vai entrar agora?

- D´Alessandro!

- Oba!

- Aham!

- Bruno, como é q tu entrou aqui?

- Eu disse pro segurança que ia entrar pra pegar dinheiro da mistura.

- Hmmm... e tu conseguiu?

- Um pouquinho sim.

- Legal!

GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!!! Índio!!!!

Uhul! Vamo Vamo Inteeeer.....

Eu, meu primo, o Vini, amigo dele e o Bruno nos abraçamos. Ele meio que não entendeu, mas abraçou de volta.

- Nossa!!!!

- Legal, né? Q golaço!

- Aham...

- Vamo, vamo, Bruno! Bora cantar, isso aqui é a popular!

- Aham!!!

- Tia.

- Fala!

- Meu sonho é ter uma camiseta do Inter.

Quando ele falou isso, meu coração ficou apertado. Mais do que quando ele tocou na questão do dinheiro. O Bruno não me pediu a grana. Mas naturalmente, na saída do jogo, eu ia dar aquele dinheiro pra ele. O necessário pra comprar uns bons quilos de arroz e feijão. Mas o lance da camiseta.... era a prova de que ele tinha entrado ali com a agonia da humilhação, mas com o desejo infantil e verdadeiro de assistir àquele jogo.


De repente, a torcida começou a ficar mais fervorosa. O Bruno se soltou, dançou com nossa popular, gritava, colocava os braços pra frente. E nos minutos finais, ele me olhou bonito, se enfiou no meio da torcida e se foi. Chamei, mas a gritaria abafou. Fiquei esperando mais de 15 minutos, na esperança que ele voltasse. Queria lhe comprar uma bandeira, combinar endereço e lhe dar uma camiseta. Queria ter garantido aquela mistura da semana. Mas não ia lhe entregar o dinheiro sem antes uma boa conversa. Queria que aquilo não fosse uma esmola, mas um presente de colorada pra colorado...


Mas tenho certeza que, de alguma forma, o piá se sentiu feliz naquela noite. E eu mais feliz ainda. Porque não há preço que pague, um dia após o centenário do Inter, tu saber, de verdade, porque o Gigante é considerado a academia do povo.


É, Bruno, espero te encontrar de novo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Inacreditável!




*** Há coisas que até Deus duvida. Mas o que aconteceu em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.... não dá pra acreditar. Duas mulheres, uma confusão no Hospital, uma delas morre e a filha da outra leva a "UMA" pra casa, achando que é a mãe? Medo.


*** Alguns estúpidos do País acharem que a Eliana Tranchesi da DASLU ter sido penalizada em ""exagero" pelos 94 anos de prisão. 1°: alguém acredita em Papai Noel? 2°: e em coelhinho da Páscoa?


*** Efeito colateral: Dilma... Lula... uma cadeira por 4 anos.. mas foi só a crise chegar para a popularidade do nosso barbudo cair uns 10 pontos... é, Lula.... otimismo só com $$ no bolso!


*** O programa "Minha casa, minha vida" deveria ganhar o prêmio honorário de piada do ano! 1 milhão de casas sem prazo? Ok... até os 107 anos eu estarei na CNN.


*** Para o mundo que eu quero descer! Um terremoto atrás do outro.... e ainda tem gente que diz que o aquecimento global não muda nada no mundo. A-ham.


*** Gente, já fizeram o KIt de Páscoa pras crianças da Tia Leontina, da Vila Kipling? Vamo lá!


*** E o Cristovam Buarque que quer criar novas vagas de deputados, eleitos por quem está no Exterior???? Isso! Isso mesmo!!! Aumente o número daquele boteco. A hipocrisia fede...


*** Piada da semana: a bispa Sonia Hernandez quer ser Deputada Federal. A pena dela e do maridinho da Renascer vence em agosto. Depois, ambos estarão livres para concorrer no Brasil. Ahn... vejamos. Brasil = Collor varrido em 1992 e Collor na política novamente. Tá, beleza. Vem quebrar tudo, Sônia!!!


Músicas para se ouvir lendo isso:


"Nós não vamos pagar nada.... cha lá lá lá... nós não vamos pagar nada, é tudo FREE! Porque esse imóvel tá pra alugar!!!!!!!!!!!!!!!" Titãs.


"Você não vale nada, mas eu gosto de você" - Calcinha Preta.


"Eu não tenho nada pra dizer. Tb não tenho nada pra fazer. Só pra garantir esse refrão! Eu vou enviar um palavrão! C%$#" Ultraje a rigor.


Booooooooooooooora.


quarta-feira, 1 de abril de 2009

Criança, criança...




Já foste uma das minhas filhas favoritas. Ainda pequena, em crescimento, no ventre de um mundo perverso que nos cerca. No dia a dia.


Não me julgue, criança, porque na vida tudo tem um fundamento. Hoje te sentes injustiçada, mal amada, mal tratada, esquecida nas tuas virtudes. Virtudes que morreram dentro de ti, quando desististe de ti mesma, alheia ao mundo que te esperava - e te espera - de braços abertos.


Colocaste o óculos da permissividade, fechando as vistas para o que acontecia. Ainda na tua imaturidade, levaste o mundo ideal para o lado contrário: preferiu o universo do fácil, em vez da luta incansável. Dos que depois descansam, alguns infernizados, outros tranquilos.


Há um mundo de letras imaginárias, nos livros, nos jornais, nas revistas. Um mundo de coisas que te fará descobrir que tua casa de bonecas, de paredes tão frágeis, é só mesmo uma casa de brinquedo. O mundo é cruel, sim, criança. Cruel e dilacerador, e por muitas vezes ele te espanca, pra criar em ti a casca grossa necessária pra continuar. Porque pele sensível rasga - e dói. Mas a pele de cobra só se regenera cortada de uma só navalha, nascendo - de novo - incansável.


Sim, criança, a vida vai ainda te fazer apanhar muito, mas tanto, tanto, que um dia tu te sentirás cansada e irá concluir que: a próxima surra é só o começo, numa série de tapas na cara, que talvez um dia, te farão acordar.


E porque não, pensar.
Que um dia alguém tentou abrir teus olhos.
Mas menina, tu fechou, de novo, as janelas da pequena casa de bonecas.
Boa sorte, criança.
Tu irás precisar.