terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Como ser superficial com frases de efeito




Já reparou que toda pessoa desprovida de conteúdo usa frases de efeito? E mais: adoram desencavar o Carlos Drummond de Andrade e a Cecília Meireles. Toda a frase estúpida é da Cecília Meireles, coitada. E o pobre do Érico Veríssimo, então? É o que mais sofre.


Bom, vamos aos significados destas que são a saída de quem não sabe o que escrever (ou naturalmente não saiba nem escrever) para disfarçar a superficialidade.


1. Deus dá em dobro. (Oba! Quando ganhar na mega sena, em vez de R$ 30 mi, levo R$ 60 mi para casa!!!!!)


2. Freud explica. (Pô! Coitado do Freud! Ninguém mais sabe explicar por ele??????)


3. Deus não mata mas achata. (que ferramenta será que usa?)


4. Santinha do pau oco. (aquela que se faz de vítima e não tem nada no lugar do cérebro. A eterna "coitadinha", dono de um pedaço de madeira com cupins)


5. Antes tarde do que nunca. (Já dizia o vovô que casou com uma jovem 60 anos mais nova)


6. A cobra vai fumar. (e vai morrer de efisema daqui a 3 anos)


7. Cada cabeça uma sentença. (já diria meu amigo Amorim sobre os diferentes criminosos)


8. Devagar se vai ao longe. (tão longe que não tem mais volta)


9. Deus dá nozes a quem não tem dentes. (e caixa craniana a quem não tem cérebro)


10. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. (Ah, se o Ibama te pega!!!)


11. Nuvem baixa sol que racha. (Ei! Isso não valia para a serração???)


12. Nem oito, nem oitenta! (já diria a mulher que fez plástica)


13. Onde há fumaça... há fogo! (193!!! 193!!!)


14. O que arde cura. (já diria o inventor do Merthiolate)


15. Pau que nasce torto nunca se endireita. (menina que requebra, mãe, pega na cabeça. :/)


16. Quando o gato sai os ratos fazem a festa. (deixa que a gente cuida da sua casa, Shrek!!!!)


17. Quem semeia vento colhe tempestades. (estiagem já era então!)


18. Quem com ferro fere, com ferro será ferido (isso não era da novela do Fagundes?)


19. Quem canta seus males espanta!!! (e os vizinhos também)


E a melhor....


20. Rir é o melhor remédio! (abaixo a indústria da farmácia!!!)


Co-ra-gem.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Genial!!!!!!


R$ 1,18.




Dia desses estava trabalhando quando recebi um telefonema.

- Cris, tinhas que estar aqui. Um segurança está levando um rapaz para a delegacia. Pegaram o guri roubando um pacote de Trakinas. - Do outro lado da linha estava a Beta, minha amiga de muitos anos.


Sabendo do meu ar revoltado, ela resolveu me ligar. Com a leveza de um ogro, engoli aquilo em seco. O supermercado era um daqueles grandes, no melhor estilo capitalista. Um daqueles que fica abarrotando prateleiras com ofertas estúpidas, incentivando o consumidor a gastar mais do que tem. E em um desrespeito desesperador, te fazem esperar 54 minutos numa fila pra passares cinco ítens. O luxo do lixo.


Peguei o carro e fui. Minha intenção era fazer uma matéria grande mesmo, escandalosa, ao meu jeito. Mas quando cheguei, não vi o movimento. Minha amiga me esperou na frente. Disse que "já haviam levado o guri pra dar uns petelecos". Juro que se achasse o piá nas proximidades, compraria a ele um estoque de Trakinas. Mas com certeza a sociedade hipócrita, acostumada a enxergar as coisas com olhos de vidro, deixou passar. Os mais soberbos devem ter dito "garoto infernal. Bem feito. Tem mais é que apanhar mesmo!" E a bolachinha passou a ser a injustiçada da história. Enquanto a população aplaudia de pé os que a haviam resgatado e a recolocado na prateleira. Rápido! Aí vem mais uma criança gorda e mimada pelos pais. Dêem a ela o pacote fechado e cheio de recheio. Não. É como a criança gosta, sem a embalagem, já retirada, que é pra evitar tirar o esmalte da unha.


Um pacote de Trakinas custa exatamente R$ 1,18 (isso sem contar as variações inflacionárias).

R$1.18. Um real e dezoito centavos. Sim. Não é motivo para roubo. Mas passe um dia sem comer, pra tu veres como é bom sentir aquela sensação gostosa no estômago.


1.18. E onde estão os clientes do supermercado agora? Oh, sim, estão em casa, assistindo ao depoimento do Roberto Jefferson, que virou presidente de Partido, falando de programas governamentais. Vejam só, assistam com atenção. Ops! Esqueci. O Zé Povinho é um povo sem memória. Não lembra que é Roberto Jefferson.


E os 40 milhões do Detran? A famosa Operação Rodin. Quantas Trakinas comprariam????? Não se preocupe, eu acabo de fazer a conta: os 40 milhões dos 40 ladrões (comandados por Lair Babá) comprariam aproximadamente 33 milhões de pacotinhos de Trakinas. O suficiente pra alimentar um guloso sém cérebro por 90 milhões de anos!


Voltamos para a frente da TV. A sociedade nem lembra disso e não quer lembrar. Saiu do bolso dela, é claro, mas o mais importante é o que saiu da prateleira do Super Hiper Ultra fornecedor de alimentos SuperDuperFaturados: o amado e idolatrado supermercado.


E viva à hipocrisia! Viva à tolice! Viva (muitos, mas muitos VIVAS) o poder da ignorância! Dos que defendem a bandeira da burrice, porque são destes que o mundo precisa pra continuar sendo a mesma selva. Vamos continuar quietos, sem saber o que está acontecendo. É melhor ser burro mesmo! Viver na inércia, pra não saber de nada, porque é mais prático e fácil ser um asno. Assim, não há do que se reclamar!


E viva o Sérgio Naya! (Por falar nisso, tchê... alguém pegou o endereço dele no inferno para as indenizações de quem comprou os apartamentos de areia?)


Nós não vamos pagar nada. É tudo free. A solução é alugar o Brasil. :)



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A consulta.




-Entre, Pedro Henrique.


Definitivamente, Pedro Henrique estava cansado de entrar no consultório de mais um médico. Já havia passado pelas mãos de tantos profissionais, que dava medo só de pensar. Em mais uma sala branca, PH já sentia os ares de uma consulta longa e maltrapilha. Já sentia, acima de tudo, que seria mais uma daquelas sessões onde ele se sentiria um mendigo. O mundo teria soluções pra tudo, menos pra ele.


- Pedro Henrique?


PH apressou-se. Passos largos em direção ao consultório, passou os olhos pela planta no canto esquerdo do seu campo de visão. Que bela planta, ele pensou. Nada mal para um consultório frio. Em todos os sentidos. O médico lhe abriu um largo sorriso (e Pedro Henrique pensou que tanta simpatia tinha a ver com o fato de seu plano de saúde ter vencido e ele pagara o salgado preço da consulta).


- Bom dia, Sr. Pedro Henrique. A que lhe devo a honra? (sim, o médico era extremamente simpático agora).


- Bem.. arh.... Dr.... é, ahn... Bom, Dr. Meu mal não sei qual é. Ando tendo um comportamento estranho, sabe? Às vezes penso que estou ficando louco.


- Não pode ser. Um rapaz jovem e cheio de vida! (sorriso amarelo)


- Obrigada Dr. (sensação reconfortante)


- Mas o que se passa afinal?


- Dr... eu sinceramente não sei. O problema é que ando falando coisas estranhas por aí. Às vezes penso uma coisa e falo outra. Em outras, meus conhecidos afirmam que digo uma coisa para uns e para outros digo exatamente o contrário. Não ando com opinião formada, penso que meus valores andam distorcidos, mas nem sei bem porque. Não consigo manter amigos ou amizades superficiais, porque sinto que as pessoas se decepcionam um pouco. Não suporto meu chefe e guardo por ele antipatia profunda, mas ainda assim sorrio pra ele, lhe ajudando inclusive a pendurar o paletó. Não consigo ver o sucesso dos outros, pois penso que deveria ganhar o mesmo que eles em valores, ainda que não tenha o mesmo talento. Penso que minha esposa é uma idiota sem cérebro, mas ainda assim elogio tudo que ela faz. Meus filhos são dois preguiçosos, mas insisto em me vangloriar aos que me encontram na rua. Prefiro "tirar o meu da reta" a emitir opinião. Gosto de fazer fofocas diversas, pra ver "o circo pegar fogo". Falo mal das pessoas e depois as protejo, como se o resto do mundo estivesse sendo injusto. E meu intuito no mundo é ver as pessoas caírem, mas....


- Mas?


- Mas sei que se derrubar qualquer pessoa, não terei condições de suprir o papel delas. Sou um incompetente. Um perdedor que perde tempo querendo derrubar os outros, criando situações patéticas, e que não cuida de si.


O Dr. olhou sério para Pedro Henrique. Primeiro de soslaio... depois fixamente. Depois anotou algumas coisas no receituário.


- E então, Dr.?


- Pedro Henrique... tu tens falsidade aguda. Mas não te preocupas. A falsidade não mata.


- E isso tem cura, Dr.?


- Não.


- E como é o tratamento, então?


- Não existe. Mas tente ser verdadeiro consigo mesmo uma, duas vezes por dia. Ajuda a amenizar outra doença que vai associada: ilusionite aguda.


Oh, sim, o mundo dos "duas caras" era de ilusão eterna. Os olhos nunca tinham o poder de discernimento correto. E o médico ficou feliz de ter sido verdadeiro com o paciente pela primeira vez, desde que ele entrara. O mundo sacrificava os sinceros. Por pura falta de caráter. E personalidade.


Consulta encerrada.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Moço. Qual sonho você tem?




Porto Alegre. "Cidade grande", ponto principal do Rio Grande do Sul. Prédios gigantescos, velhos, mal cuidados. Outros suntuosos, em bairros de luxo da Capital da Província. O Centro e o bairro contrastam. Para o bem e para o mal. São as faces da Capital.


Pois que hoje precisei ir a Porto Alegre, que em um forno de 34 graus parecia uma cidade aqui do Vale. Onde a sombra serve para grelhar.


Eis que paro no ponto do ônibus, sorrateira, esperando a condução ao meu destino.

Eu acho que levei um susto quando ela se aproximou, mirrada. Acredito que tenha um imã para crianças. Tão amadas, tão abandonadas, vistas como baratas pelos estúpidos que fingem não perceber o estado lastimável de pequenos habitantes deste mundo belo e escroto.


Ela falou tão baixinho... que eu tive que me aproximar pra escutar.

- Tia, me dá um sonho?


Um sonho...... nossa, quantos sonhos eu daria para aquela criança, que eu julgava ter 7 anos, mas tem lá seus 12, 13.


Eu daria como sonho à ela uma profissão. Algo para ocupar a mente e o coração. Hm... seria ela uma jogadora de vôlei? Apanhando as bolas que a vida insiste em sacar na área? Quantos pontos a sociedade já teria feito contra ela? E o juíz dessa partida? Grande ladrão! Nunca deu vantagens para a pequena sem-nome que cruzou meu caminho.


Eu daria como sonho à ela um banho. Um banho gostoso, destes demorados, com espuminha de sabonete. Com um chuveiro nem quente, nem morno, nem frio. Uma roupa seca e limpa, daquelas que só as mães sabem passar. Uma escova de cabelos, pra ela se olhar no espelho e ajeitar as madeixas. Eu daria um colônia pós-banho, e diria "agora fica aqui dentro de casa, pra não se sujar, ok?". Mentira, eu diria pra ela correr que nem uma louca, fazendo bagunça. Depois ela toma outro banho, oras!


Esperem! Já sei! Eu daria a ela um pai e uma mãe. Esse par de humanos que adora pegar no pé. Que você às vezes quer ver longe de casa, mas que espera com o barulho da maçaneta. Que te dá uns petelecos às vezes, e em outras te pega no colo. Aqueles mesmos, sim, estes mesmos que você às vezes ignora, mas que estão em plena vigilância. Os pais poderiam substituir tranquilamente uma antena Sky. Os pais pegam 80 canais.


Hm... mas quem sabe um sonho de escola? Onde ela pudesse ir ao mercado pra escolher a mochila mais bonita. A cola tenaz (isso existe ainda???) e a tesourinha verde. A borracha com cheirinho de morango, e o lápis das princesas mais belas. As canetas BIC três cores, o caderno do Cavalo de Fogo, o papel pra encapar o livro. A pastinha de elástico. O lanchinho básico, ou uns trocados pra comprar um pastel gostoso e quentinho na cantina.


E enquanto eu pensava no sonho mais coerente, ou mais fácil de ser atendido, ela me interrompe:


- Tia, me dá um sonho?


O dedinho magro apontava para trás de mim.
Numa barraquinha, estava um vendedor de sonhos. Baunilha ou mumu. À escolha do cliente.
Desapontada, perguntei qual sonho ela queria (pais, escola, um banho, uma profissão? Hein? Hein?).


- Pode ser de baumilha, tia.

Ah... sabor baumilha. O melhor dos melhores.....
O sonho, o refri e a criança se foram dali.
Se perderam entre milhares de sonhos de quem só consegue enxergar o seu.
E na maioria das vezes, não sabe qual sabor tem.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Matando um leão por dia



A sexta-feira foi um dia difícil. Um daqueles dias que o jornalista ama. Dia de torrar no sol por uma entrevista, dia de se matar pra conseguir meia palavra.


Torrei o rosto, qse desmaiei de sede e não fosse a generosidade de Ieda Risco com sua garrafinha de água, provavelmente eu teria sucumbido à desidratação. Tudo isso por causa de Dilma Rousseff, la grand promessa para a cadeira estofada do presidente.


Depois da cobertura, ainda tive que preparar às pressas duas matérias para os colegas gravarem. Foi uma correria só, mas ao final, tudo saiu bem.


Mas depois de tanto cansaço, me restou chegar em casa e cair na cama. Bem que tentei ficar acordada, mas não deu. Tem gente que pensa que jornalista é de ferro. Mentira. Nem de ferro, nem de aço. É uma pessoa como outra qualquer.


Talvez por isso eu tenha ferrado no sono, e lá pelas tantas, quando no último dia do horário de verão o relógio apontava 10:02, eu ainda dormia um sono pesado quando o celular tocou. Não tive tempo de conferir a bina, mas do outro lado se acusou o Soldado Funchi da BM. "Cris, tenho uma notícia pra ti. Acabaram de encontrar o corpo de uma mulher na prainha, em Lomba Grande". É claro que depois de uma notícia assim, eu não conseguiria dormir mais. Estranho é que eu fico numa adrenalina tão intensa que começo a operar com dois celulares, ligando pra um mundo de gente. Um destas pessoas foi Diana Mendel, minha estagiária que já é uma repórter em pleno crescimento. A Diana se tocou pra lá e eu fiquei entrando em contato com outras pessoas que pudessem dar mais informações.


Passadas umas 3 horas, a Diana ainda estava lá. O sol estava a pino, um calor de uns 34 graus. A prainha é um lugar aberto, e apesar da sombra de algumas árvores, não há como escapar do forno. Ela entrou com um boletim bem detalhado, sinal de que estou conseguindo passar o recado aos meus pequenos. Mas como em toda notícia é preciso aparar as arestas, sobretudo os "ao vivos", liguei pra ela pra corrigir algumas coisas e elogiá-la pelo bom trabalho.


Mas ela ficou meio irritada, nitidamente. Depois, fiquei analisando a maneira como havia corrigido ela, pensando que talvez poderia ter sido ríspida demais. A gente se falou por telefone e ela disse "não, Cris, tudo certo, é que estava muito quente, eu estava irritada, etc". Depois ela completou "sabe, a família da mulher assassinada foi lá porque me ouviu no rádio, só então entendi a extensão do nosso trabalho".


Pra mim, ouvir aquilo, foi um alívio. Todos têm o direito de ficarem irritados por passar horas em um lugar aberto, com sol, sem água, tendo a obrigação de entrar no ar com uma informação correta e detalhada. No caso da Diana, ela avisou uma família que estava angustiada com o desaparecimento de um parente. A notícia não poderia ter sido pior, mas no fundo, poderia ter sido diferente, ela poderia ter anunciado que a mulher estava no hospital e bem. Não podemos interferir no resultado, mas o importante é sabermos que o jornalismo é coisa séria.


E somente os que entendem a extensão deste trabalho, o quanto ele atinge as pessoas, para o bem e para o mal, consegue sobreviver na profissão.


Os demais, que brincam de jornalismo, os que acham que esta é a vida da farra, do fácil, do mais ou menos, morrem na praia. Se é que um dia chegarão à areia. A maioria se afoga sozinha.




sábado, 14 de fevereiro de 2009

A gente já chegou?



Porque só na trilogia do Shrek existia um burrinho feliz!
E vamos que vamos!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A formiga e o leão




Dia desses fui no zôo. Nossa, fazia uma "cara de tempo" que não ia. Me sinto um animal às vezes. Ora essa. E não sou? Se fosse de verdade, seria um macaco. Mas continuo querendo ser bicho gente. Racional e emocional ao extremo. :)


Pois que quando entrei fui direto à ala dos leões. A alcova dos magnatas da selva. Os mais temíveis do zôo. Lembro que minha mãe gelava quando eu me perdia na selvinha de pedra, ela sempre achava que eu tinha sido comida por um leão. hahahahahaha....


Fiquei olhando para os felinos, tão quietos e saciados de carne. Pobre lion e sua vida dura, enclausurado, podendo o mundo e não podendo nada. No cercadinho, observando as pessoas. Os bebês que o olham fixo. As mulheres que o olham com medo. Os homens que acham que podem contra ele. O homem é mesmo um animal desprovido de medo. Mas larga-te num cercadinho de leões, larga-te.


Mas dae nestas andanças eu parei pra encostar na grade e vi uma formiguinha. Tá, era uma formigona, destas gigantes, que se te morder (e há algumas que usam aparelho e a mordida é doída que dá dó) tu cai duro no chão. Ela foi indo em direção ao leão, com suas garras pesadas, sua pata carnuda, seus dentes que rasgam um boi como se fosse manteiga. E ela ia corajosa, esperta, posuda que só ela. A bundinha saúva chegava a se erguer no vazio. Numa alameda próxima, centenas, milhares, milhões de outras formiguinhas gritavam:


- Fu! Fu! Fu! (de Fumiga).


E ela ia num ritmo bonito e admirável em direção ao leão. E se botava pra frente com a delicadeza e a força de uma modelo nata.


O leão deu aquela olhadinha pra formiga. Pobrezinha, descerebrada. Posuda e tosca, tão inocente formiga. Ele ali, um leão velho de guerra, marcado pelo tempo, chegou a sorrir no cantinho da boca quando viu ela se aproximando.


Fu foi com tudo e foi prosa. Deu uma mordida (nhac!!) e mais outra (nhac nhac) na pata do leão. Corajosa! Ele poderia tê-la esmagado com uma só patada.


Mas ficou imóvel. A pobre já esperava ter sido aquela a última "nhacada" de sua vida.

Enquanto isso, o leão nem se mexeu.
Sabia ele que era só uma formiguinha.

E que, enquanto isso, ele já voltava a observar as pessoas, pensando em algo muito maior.


Porque enquanto a formiguinha vinha com a mordida insignificante, o leão já sabia que aquela jaula era só o começo de uma vida cheia de desafios. E de vitórias para o rei da selva.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Louvor ao Louva Deus




Poucos sabem, mas uma jornalista policial (ok, eu uso o termo jornalista, só me faltam 365 dias de faculdade) é assim porque em outras vidas já foi um homicida. Com isso, o elemento jornal tem a percepção de fuga, atitudes e posicionamento de um criminoso. Se bem que se for assim... eu ainda devo ter uns 40 anos de pena pra cumprir.

Bueno, mas já fui uma homicida nesta vida. Poucos sabem do meu passado negro, mas já matei, sem dó ou piedade. Acalmem-se, o que matei foram grilos (ainda que seja um crime, não se tratou de um homicídio). Eu chamaria de grilocídio triplamente qualificado. Pois que numa longínqua infância eu matava os pobres com uma frieza que nem os mais psicopatas possuem. Passava manhãs matando grilos, e num ataque de cinismo e petulância os sepultava, pobres grilos, já não haviam restos mortais decentes.

Não sei se eram os grilos que me procuravam pra morrer (possivelmente minha fama já tinha se espalhado no Vilarejo), mas sempre cruzava com alguns quando ia para a escola. E num ímpeto assassino (hassassin) eu os matava. Quando menos esperavam... pá! Voava o chinelaço, às vezes substituído pela sandalinha de plástico. Sempre com motivo torpe, impossibilitando a defesa da vítima.

Mas fiz a introdução para lembrar que todo assassino pode um dia se recuperar. Hoje, indo para a manicure, cruzei com um Louva-Deus. Por nosso Senhor Jesus Christ (desculpem-me o trocadilho barato), eu nunca mais havia visto um. É como uma luta igual, sempre me disseram que a picada de um louva deus é fatal (e louva deus pica????), sendo que eu sempre mantinha uma distância regulamentar. Mexer com coisas divinas é sempre complicado e se o inseptus tinha Deus no nome, é porque protegido ele era, de alguma forma.

Pois que o pobre estava tentando subir numa planta, num galho que ia e voltava. E chegou a me dar uma agonia, de pena do santo. Num ato de remorço e boa ação, fui em direção do pequeno. Ele me olhava com aquele tom frio, no melhor estilo "eu sei o que vc fez no verão passado". Na cabeça dele devem ter passado milhões de cenas, como um chinelo rosa havaiana lhe esmagando sem pesar, uma esmagada no muro, alimento para cães... mas não.

Surpreendido, ele foi auxiliado a subir no galho. Abriu os olhinhos microscópicos e franziu o cenho (o louva deus é meu e ele pode).

E ao sair dali, tenho certeza que ele pensou:
"- Perdoai a moça, Pai. Ela não sabe o que fez".
Sou uma homicida recuperada.