domingo, 9 de agosto de 2009

És capaz de ouvir a canção do vento?


Perdida, entre o milharal, a pequena menina parecia mais uma vítima de si mesmo. Guardando segredos e desejos, parecia flutuar na plantação, procurando significados para tudo. Para tudo, sim, uma contrariedade, porque o óbvio era pequeno demais. Ela queria ver as cores e ouvir a voz do vento. Desafiando, portanto, a vida, saiu em disparada, quando sentiu os primeiros sinais. Ele balançava o milharal, o fenômeno da natureza que mais a agradava. Não havia meias medidas, meias palavras, não havia nada que ela definisse naquele momento. Correu, esbaforida, procurando alcançar a força do vento. Se alcançasse a velocidade, portanto, conseguiria senti-lo mais verdadeiramente, talvez apanhá-lo entre os dedos. Seria muita audácia, mas quem duvidaria da menina, que de longe parecia apenas brincar? E enquanto os produtores enchiam suas carroças com a colheita, a pequena serelepe não titubeava! Corria, o mais rápido que podia, olhando para todos os lados, ângulos, tudo que os olhos pudessem captar. Os agricultores riam entre si, pensando:

- “Pobre menina, pensa que o vento pode pegar. Pobre garota ambiciosa, pensa que a vida pode enganar. A natureza é esperta demais para ela, jamais alguém conseguiria pegar o vento, ainda que em contento, jamais terás alento”. E se puseram a rir, porque a canção do vento (o que diria ela?) não sabia mentir.

Quando não menos esperta a menina surge, mãos fechadas em concha. Olhava para eles com olhos de fascínio, a roupa em pura fuligem, os pés ardendo de tanto correr. E os homens pensaram, “que ela carrega nas mãos”? Seria o vento? Seria possível? A criança fechou as palmas o mais que aguentou, respiração ofegante. Fez mistério, a testa já suando frio. Era chegado o momento.

E ela abriu as mãos, rápida e precisa. Dentre os pequenos dedos, liberta e feliz, saía uma borboleta colorida, as asas ainda desajeitadas. Voou rápido. E se foi. E os homens apenas refletiram, sozinhos em seus pensamentos, que aquela criança era desorientada, prendendo borboletas para depois soltar. Sem admitir, é claro, que por um momento acreditaram que ela havia mesmo aprisionado o vento.

E a menina olhava fascinada, ainda, olhos marejados. Sabia que os eles não compreenderiam. A borboleta colorida era o vento colado às asas, que livre voava, dando cor ao céu. A mais temida e destemida borboleta.

Quem sabe um dia, acreditariam. Já que a vida era nova, a cada momento.

Um comentário:

Diegonzo disse...

pareceu um resumo da canção do vento, do Nervoso

gostei dessa parte
"A borboleta colorida era o vento colado às asas"

bjooo