domingo, 21 de junho de 2009

Um pequeno bebê




Estranho é olhar para trás e lembrar que aos 20 anos eu pensava que jamais quisesse ou almejasse ter um filho. Até então, em minha rica imaturidade, um filho era o Centro do Universo e roubaria a mim mesma de meu próprio lugar. Jamais teria tempo para qualquer coisa que não fosse o fruto de 9 meses com a barriga empinada. Sentindo enjoos e cólicas intermináveis, ah, a desgraça de ser mãe. Benditos sejam - ou fossem - os anticoncepcionais, ou como dizem as mais sádicas, as "boletas salva-vidas".

Pois que na semana passada estava indo para meu novo desafio diário de vínculo empregatício quando topei com o ônibus semicheio e, por coincidência, preferi não sentar no meu banco de sempre. Aconcheguei-me no canto da janela para dormir um pouco. Mas o sono não veio. Algo de estranho estava acontecendo. No ponto seguinte, várias mulheres e homens que fazem o mesmo trajeto, o bem denominado Interior-Capital, entraram no mesmo ônibus. Uma, em particular, sentou ao meu lado. Duas pessoas na verdade. Ela e um pequena menino, de no máximo 5 meses. Parecia um tufo de lã, o pobrezinho. Mãe precavida é outra coisa.

Tentei, tentei, mas não adiantou. Tentei evitar cruzar o meu olhar com o dele, mas foi impossível. Tal parecia um raio aquele olhar aceso por duas íris azuis que foi inevitável olhar para ele. E no momento em que o enxerguei era como se um raio pudesse atravessar meu coração. Um sentimento estranho, quase bobo, que nem uma mãe às vezes sabe explicar.

O bebê me olhava com tal doçura que se eu pudesse definir aquilo, naquele momento, eu diria que era um olhar milk-shake de OvoMaltine do Bob´s, docinho e perfeito. E não é que o danado abriu aquela boca banguela pra mim? Mas que pra eu me derreter toda não deu um minuto, até que a mãe me olhou, já meio emocionada e disse:

- Lindo meu filho, né?
- Perfeito. Que coisa querida. Qual o nome?
- Bruno.
- Olá Bruno! (já com aquela cara de idiota, segurando a mãozinha dele)
- Diz oi pra tia, filho! (como se o pobre soubesse falar)
- Oiiiiiiiee (a tia aqui, estúpida, tentando o fazer falar)
- Tu é mãe? (perguntou ela)
- Não..... (respondi eu)
- Estranho... tu tem olhar de mãe!
- Iiii (pensei eu, já sabendo que estava naqueles dias, portanto, nada de filhotes). Olha amiga, não sei te dizer, mas mãe é uma coisa de instinto né? Acho que toda mulher nasce mãe.
- É verdade. Mas mãe de verdade só nasce junto com o filho.

Era um papo "mãe" total, mas desci do ônibus no ponto certo, que já se aproximava. Olhei para a minha barriga e fiquei me imaginando com aquele "panção", e mais! Com o bebê no super, passeando no parcão, vendo as pessoas olhando para meu filho ou filha com cara de idiotas.

Antes disso dei um tchauzinho pro Bruno, que continuava ali, me olhando. Tal como se eu fosse a própria mãe. Tal como se eu pudesse amá-lo de forma gratuita.

É... toda mãe nasce com o filho. Mas já é mãe bem antes dele nascer.

2 comentários:

eu disse...

Olha, se a gente não escreve um livro, pelo menos tem que fazer um filho.

Porque a árvore eu sei que a gente nunca vai plantar...

Diegonzo disse...

Cris

1º: como tu é sociável em ônibus lotados!

2º: gostei do texto

3º: só somos eternos através dos nossos filhos e buscamos isso a vida toda.

4º: beso e buena sorte nessa nova empreitada!