domingo, 15 de fevereiro de 2009

Matando um leão por dia



A sexta-feira foi um dia difícil. Um daqueles dias que o jornalista ama. Dia de torrar no sol por uma entrevista, dia de se matar pra conseguir meia palavra.


Torrei o rosto, qse desmaiei de sede e não fosse a generosidade de Ieda Risco com sua garrafinha de água, provavelmente eu teria sucumbido à desidratação. Tudo isso por causa de Dilma Rousseff, la grand promessa para a cadeira estofada do presidente.


Depois da cobertura, ainda tive que preparar às pressas duas matérias para os colegas gravarem. Foi uma correria só, mas ao final, tudo saiu bem.


Mas depois de tanto cansaço, me restou chegar em casa e cair na cama. Bem que tentei ficar acordada, mas não deu. Tem gente que pensa que jornalista é de ferro. Mentira. Nem de ferro, nem de aço. É uma pessoa como outra qualquer.


Talvez por isso eu tenha ferrado no sono, e lá pelas tantas, quando no último dia do horário de verão o relógio apontava 10:02, eu ainda dormia um sono pesado quando o celular tocou. Não tive tempo de conferir a bina, mas do outro lado se acusou o Soldado Funchi da BM. "Cris, tenho uma notícia pra ti. Acabaram de encontrar o corpo de uma mulher na prainha, em Lomba Grande". É claro que depois de uma notícia assim, eu não conseguiria dormir mais. Estranho é que eu fico numa adrenalina tão intensa que começo a operar com dois celulares, ligando pra um mundo de gente. Um destas pessoas foi Diana Mendel, minha estagiária que já é uma repórter em pleno crescimento. A Diana se tocou pra lá e eu fiquei entrando em contato com outras pessoas que pudessem dar mais informações.


Passadas umas 3 horas, a Diana ainda estava lá. O sol estava a pino, um calor de uns 34 graus. A prainha é um lugar aberto, e apesar da sombra de algumas árvores, não há como escapar do forno. Ela entrou com um boletim bem detalhado, sinal de que estou conseguindo passar o recado aos meus pequenos. Mas como em toda notícia é preciso aparar as arestas, sobretudo os "ao vivos", liguei pra ela pra corrigir algumas coisas e elogiá-la pelo bom trabalho.


Mas ela ficou meio irritada, nitidamente. Depois, fiquei analisando a maneira como havia corrigido ela, pensando que talvez poderia ter sido ríspida demais. A gente se falou por telefone e ela disse "não, Cris, tudo certo, é que estava muito quente, eu estava irritada, etc". Depois ela completou "sabe, a família da mulher assassinada foi lá porque me ouviu no rádio, só então entendi a extensão do nosso trabalho".


Pra mim, ouvir aquilo, foi um alívio. Todos têm o direito de ficarem irritados por passar horas em um lugar aberto, com sol, sem água, tendo a obrigação de entrar no ar com uma informação correta e detalhada. No caso da Diana, ela avisou uma família que estava angustiada com o desaparecimento de um parente. A notícia não poderia ter sido pior, mas no fundo, poderia ter sido diferente, ela poderia ter anunciado que a mulher estava no hospital e bem. Não podemos interferir no resultado, mas o importante é sabermos que o jornalismo é coisa séria.


E somente os que entendem a extensão deste trabalho, o quanto ele atinge as pessoas, para o bem e para o mal, consegue sobreviver na profissão.


Os demais, que brincam de jornalismo, os que acham que esta é a vida da farra, do fácil, do mais ou menos, morrem na praia. Se é que um dia chegarão à areia. A maioria se afoga sozinha.




Um comentário:

Diana disse...

Aprender não é fácil...

Na verdade estamos sempre aprendendo, mas convenhamos que no começo é sempre PIOR...

Mas, ""REALMENTE"" Vamos Lá!!!

Diana Mendel