sábado, 7 de fevereiro de 2009

Louvor ao Louva Deus




Poucos sabem, mas uma jornalista policial (ok, eu uso o termo jornalista, só me faltam 365 dias de faculdade) é assim porque em outras vidas já foi um homicida. Com isso, o elemento jornal tem a percepção de fuga, atitudes e posicionamento de um criminoso. Se bem que se for assim... eu ainda devo ter uns 40 anos de pena pra cumprir.

Bueno, mas já fui uma homicida nesta vida. Poucos sabem do meu passado negro, mas já matei, sem dó ou piedade. Acalmem-se, o que matei foram grilos (ainda que seja um crime, não se tratou de um homicídio). Eu chamaria de grilocídio triplamente qualificado. Pois que numa longínqua infância eu matava os pobres com uma frieza que nem os mais psicopatas possuem. Passava manhãs matando grilos, e num ataque de cinismo e petulância os sepultava, pobres grilos, já não haviam restos mortais decentes.

Não sei se eram os grilos que me procuravam pra morrer (possivelmente minha fama já tinha se espalhado no Vilarejo), mas sempre cruzava com alguns quando ia para a escola. E num ímpeto assassino (hassassin) eu os matava. Quando menos esperavam... pá! Voava o chinelaço, às vezes substituído pela sandalinha de plástico. Sempre com motivo torpe, impossibilitando a defesa da vítima.

Mas fiz a introdução para lembrar que todo assassino pode um dia se recuperar. Hoje, indo para a manicure, cruzei com um Louva-Deus. Por nosso Senhor Jesus Christ (desculpem-me o trocadilho barato), eu nunca mais havia visto um. É como uma luta igual, sempre me disseram que a picada de um louva deus é fatal (e louva deus pica????), sendo que eu sempre mantinha uma distância regulamentar. Mexer com coisas divinas é sempre complicado e se o inseptus tinha Deus no nome, é porque protegido ele era, de alguma forma.

Pois que o pobre estava tentando subir numa planta, num galho que ia e voltava. E chegou a me dar uma agonia, de pena do santo. Num ato de remorço e boa ação, fui em direção do pequeno. Ele me olhava com aquele tom frio, no melhor estilo "eu sei o que vc fez no verão passado". Na cabeça dele devem ter passado milhões de cenas, como um chinelo rosa havaiana lhe esmagando sem pesar, uma esmagada no muro, alimento para cães... mas não.

Surpreendido, ele foi auxiliado a subir no galho. Abriu os olhinhos microscópicos e franziu o cenho (o louva deus é meu e ele pode).

E ao sair dali, tenho certeza que ele pensou:
"- Perdoai a moça, Pai. Ela não sabe o que fez".
Sou uma homicida recuperada.

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