Não sei bem onde começou minha paixão pelo Inter. Nunca fui ligada em futebol, mesmo tendo nascido colarada. Minha irmã é que me colocou no mundo do fanatismo. Só fui conhecer o "Bera" em abril do ano passado, quando um grande amigo me levou até lá. E já passei por situações tão maravilhosas lá dentro... O Beira é um templo. Depois de muitos anos, foi lá que eu revi uma estrela cadente, foi lá que me apaixonei por este time, me apaixonei por tantas coisas... o vinho na entrada, fotos, coração batendo. O Inter é mesmo o sinônimo da paixão. E não é à toa que muitas paixões começam lá dentro. E dificilmente acabam aqui fora. O Gigante é como se fosse um caldeirão aconchegante.
Mas no último Gre-Nal, eu nem estava preparada para ir quando meu primo me ligou. O Matheus já foi dando as coordenadas e tudo que eu fiz foi resgatar minha camisetinha batida do armário. Mas ele já foi avisando: vamos pra POPULAR. Ah.. a POPULAR que eu só via de longe, sentadinha nas cadeiras sociais, onde um bando de bundinhas, ainda que colorados, fica vaiando o time qdo um tropeço é registrado... Pensei: e porquê não?
E lá fomos nós, num chuvisco daqueles chatos "molha chapinha", uma brigaçada na rua, estacionamos perto do Gigante e nos tocamos pra Guarda, antes das 3 da tarde, quando o jogo só começaria às 5... mas era preciso chegar cedo pra "pegar um lugar". Aos poucos, aquela massa colorada foi chegando, e AI! de quem não estivesse cantando, porque aquele era o lugar de hinos e glórias, e não de assistir a partida. E enquanto os azuizinhos se esgualepavam pra pegar a bola, o Inter deita e rola, mostrando que esta terra tem mesmo patrão.
E talvez pela empolgação, nem vi quando ele se aproximou. Corpinho mirrado e moletom sujinho, ele veio se chegando de mansinho, pra ver o jogo e o time passar. Mal tive coragem de reclamar. O guri não pagou a entrada, subiu uma baita escada e foi pra Popular. Se encostou na grade e me olhou de mansinho, como que justificando a invasão.
- Oi!
- Oi (tímido...)
- Como é que é teu nome?
- Bruno.
- Espero que tu sejas colorado, Bruno! Se não te jogo ali no campo! (risos)
- Sou sim, tia!!!!! (justificando).
- Ótimo, então te gruda aqui que o bicho tá pegando!
- Ahhhh (olhar extasiado pro campo)
- Tia, quem vai entrar agora?
- D´Alessandro!
- Oba!
- Aham!
- Bruno, como é q tu entrou aqui?
- Eu disse pro segurança que ia entrar pra pegar dinheiro da mistura.
- Hmmm... e tu conseguiu?
- Um pouquinho sim.
- Legal!
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!!! Índio!!!!
Uhul! Vamo Vamo Inteeeer.....
Eu, meu primo, o Vini, amigo dele e o Bruno nos abraçamos. Ele meio que não entendeu, mas abraçou de volta.
- Nossa!!!!
- Legal, né? Q golaço!
- Aham...
- Vamo, vamo, Bruno! Bora cantar, isso aqui é a popular!
- Aham!!!
- Tia.
- Fala!
- Meu sonho é ter uma camiseta do Inter.
Quando ele falou isso, meu coração ficou apertado. Mais do que quando ele tocou na questão do dinheiro. O Bruno não me pediu a grana. Mas naturalmente, na saída do jogo, eu ia dar aquele dinheiro pra ele. O necessário pra comprar uns bons quilos de arroz e feijão. Mas o lance da camiseta.... era a prova de que ele tinha entrado ali com a agonia da humilhação, mas com o desejo infantil e verdadeiro de assistir àquele jogo.
De repente, a torcida começou a ficar mais fervorosa. O Bruno se soltou, dançou com nossa popular, gritava, colocava os braços pra frente. E nos minutos finais, ele me olhou bonito, se enfiou no meio da torcida e se foi. Chamei, mas a gritaria abafou. Fiquei esperando mais de 15 minutos, na esperança que ele voltasse. Queria lhe comprar uma bandeira, combinar endereço e lhe dar uma camiseta. Queria ter garantido aquela mistura da semana. Mas não ia lhe entregar o dinheiro sem antes uma boa conversa. Queria que aquilo não fosse uma esmola, mas um presente de colorada pra colorado...
Mas tenho certeza que, de alguma forma, o piá se sentiu feliz naquela noite. E eu mais feliz ainda. Porque não há preço que pague, um dia após o centenário do Inter, tu saber, de verdade, porque o Gigante é considerado a academia do povo.
É, Bruno, espero te encontrar de novo.
2 comentários:
abafa.. mas me caiu uma lágrima.
Bah, Cris... depois de ler isso, só posso te recomendar a seguinte trilha:
http://www.youtube.com/watch?v=14qxuDwWmh4
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