sábado, 11 de abril de 2009

Academia do povo




Não sei bem onde começou minha paixão pelo Inter. Nunca fui ligada em futebol, mesmo tendo nascido colarada. Minha irmã é que me colocou no mundo do fanatismo. Só fui conhecer o "Bera" em abril do ano passado, quando um grande amigo me levou até lá. E já passei por situações tão maravilhosas lá dentro... O Beira é um templo. Depois de muitos anos, foi lá que eu revi uma estrela cadente, foi lá que me apaixonei por este time, me apaixonei por tantas coisas... o vinho na entrada, fotos, coração batendo. O Inter é mesmo o sinônimo da paixão. E não é à toa que muitas paixões começam lá dentro. E dificilmente acabam aqui fora. O Gigante é como se fosse um caldeirão aconchegante.


Mas no último Gre-Nal, eu nem estava preparada para ir quando meu primo me ligou. O Matheus já foi dando as coordenadas e tudo que eu fiz foi resgatar minha camisetinha batida do armário. Mas ele já foi avisando: vamos pra POPULAR. Ah.. a POPULAR que eu só via de longe, sentadinha nas cadeiras sociais, onde um bando de bundinhas, ainda que colorados, fica vaiando o time qdo um tropeço é registrado... Pensei: e porquê não?


E lá fomos nós, num chuvisco daqueles chatos "molha chapinha", uma brigaçada na rua, estacionamos perto do Gigante e nos tocamos pra Guarda, antes das 3 da tarde, quando o jogo só começaria às 5... mas era preciso chegar cedo pra "pegar um lugar". Aos poucos, aquela massa colorada foi chegando, e AI! de quem não estivesse cantando, porque aquele era o lugar de hinos e glórias, e não de assistir a partida. E enquanto os azuizinhos se esgualepavam pra pegar a bola, o Inter deita e rola, mostrando que esta terra tem mesmo patrão.


E talvez pela empolgação, nem vi quando ele se aproximou. Corpinho mirrado e moletom sujinho, ele veio se chegando de mansinho, pra ver o jogo e o time passar. Mal tive coragem de reclamar. O guri não pagou a entrada, subiu uma baita escada e foi pra Popular. Se encostou na grade e me olhou de mansinho, como que justificando a invasão.


- Oi!

- Oi (tímido...)

- Como é que é teu nome?

- Bruno.

- Espero que tu sejas colorado, Bruno! Se não te jogo ali no campo! (risos)

- Sou sim, tia!!!!! (justificando).

- Ótimo, então te gruda aqui que o bicho tá pegando!

- Ahhhh (olhar extasiado pro campo)

- Tia, quem vai entrar agora?

- D´Alessandro!

- Oba!

- Aham!

- Bruno, como é q tu entrou aqui?

- Eu disse pro segurança que ia entrar pra pegar dinheiro da mistura.

- Hmmm... e tu conseguiu?

- Um pouquinho sim.

- Legal!

GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!!! Índio!!!!

Uhul! Vamo Vamo Inteeeer.....

Eu, meu primo, o Vini, amigo dele e o Bruno nos abraçamos. Ele meio que não entendeu, mas abraçou de volta.

- Nossa!!!!

- Legal, né? Q golaço!

- Aham...

- Vamo, vamo, Bruno! Bora cantar, isso aqui é a popular!

- Aham!!!

- Tia.

- Fala!

- Meu sonho é ter uma camiseta do Inter.

Quando ele falou isso, meu coração ficou apertado. Mais do que quando ele tocou na questão do dinheiro. O Bruno não me pediu a grana. Mas naturalmente, na saída do jogo, eu ia dar aquele dinheiro pra ele. O necessário pra comprar uns bons quilos de arroz e feijão. Mas o lance da camiseta.... era a prova de que ele tinha entrado ali com a agonia da humilhação, mas com o desejo infantil e verdadeiro de assistir àquele jogo.


De repente, a torcida começou a ficar mais fervorosa. O Bruno se soltou, dançou com nossa popular, gritava, colocava os braços pra frente. E nos minutos finais, ele me olhou bonito, se enfiou no meio da torcida e se foi. Chamei, mas a gritaria abafou. Fiquei esperando mais de 15 minutos, na esperança que ele voltasse. Queria lhe comprar uma bandeira, combinar endereço e lhe dar uma camiseta. Queria ter garantido aquela mistura da semana. Mas não ia lhe entregar o dinheiro sem antes uma boa conversa. Queria que aquilo não fosse uma esmola, mas um presente de colorada pra colorado...


Mas tenho certeza que, de alguma forma, o piá se sentiu feliz naquela noite. E eu mais feliz ainda. Porque não há preço que pague, um dia após o centenário do Inter, tu saber, de verdade, porque o Gigante é considerado a academia do povo.


É, Bruno, espero te encontrar de novo.

2 comentários:

Cypri disse...

abafa.. mas me caiu uma lágrima.

Francisco Luz disse...

Bah, Cris... depois de ler isso, só posso te recomendar a seguinte trilha:

http://www.youtube.com/watch?v=14qxuDwWmh4