quarta-feira, 1 de abril de 2009

Criança, criança...




Já foste uma das minhas filhas favoritas. Ainda pequena, em crescimento, no ventre de um mundo perverso que nos cerca. No dia a dia.


Não me julgue, criança, porque na vida tudo tem um fundamento. Hoje te sentes injustiçada, mal amada, mal tratada, esquecida nas tuas virtudes. Virtudes que morreram dentro de ti, quando desististe de ti mesma, alheia ao mundo que te esperava - e te espera - de braços abertos.


Colocaste o óculos da permissividade, fechando as vistas para o que acontecia. Ainda na tua imaturidade, levaste o mundo ideal para o lado contrário: preferiu o universo do fácil, em vez da luta incansável. Dos que depois descansam, alguns infernizados, outros tranquilos.


Há um mundo de letras imaginárias, nos livros, nos jornais, nas revistas. Um mundo de coisas que te fará descobrir que tua casa de bonecas, de paredes tão frágeis, é só mesmo uma casa de brinquedo. O mundo é cruel, sim, criança. Cruel e dilacerador, e por muitas vezes ele te espanca, pra criar em ti a casca grossa necessária pra continuar. Porque pele sensível rasga - e dói. Mas a pele de cobra só se regenera cortada de uma só navalha, nascendo - de novo - incansável.


Sim, criança, a vida vai ainda te fazer apanhar muito, mas tanto, tanto, que um dia tu te sentirás cansada e irá concluir que: a próxima surra é só o começo, numa série de tapas na cara, que talvez um dia, te farão acordar.


E porque não, pensar.
Que um dia alguém tentou abrir teus olhos.
Mas menina, tu fechou, de novo, as janelas da pequena casa de bonecas.
Boa sorte, criança.
Tu irás precisar.


Um comentário:

Camila M. Schuch disse...

"Sim, criança, a vida vai ainda te fazer apanhar muito, mas tanto, tanto, que um dia tu te sentirás cansada e irá concluir que: a próxima surra é só o começo, numa série de tapas na cara, que talvez um dia, te farão acordar".

Kitty, amei teu post, assim como todos os outros!


Beeijos