sábado, 28 de março de 2009

174 motivos




Por indicação de my boss, Rodrigo Giacomet, aluguei hoje o filme "Última Parada 174". Já era minha intenção ter olhado no cinema... mas como o cinema se fue de NH - e tive preguiça de ir ao município vizinho - esperei que chegasse em DVD mesmo. E chegou. E eu olhei. E olhei de novo. E olhei mais uma vez. Pra ter certeza de que tinha captado, com olhos e ouvidos, o que o filme queria passar. E gostei. Não só da produção, como também do que a história do garoto Sandro, drogado (pela vida) e transtornado (pela vida) me fez refletir sobre diversos ângulos. E eu AMO os filmes que me fazem pensar. Pensar não só no que a mídia do "Showrnalismo" nos mostra. A história de Sandro não estava na TV.


Não estou aqui pra contar o filme, até porque é uma boa indicação. Mas pra quem espera uma dramatização do ônibus, melhor ir pegar um desenho animado. Nos últimos 15 minutos de filme o coletivo Central Humaitá aparece em cena. Diferentemente da agonia de 3 horas passadas por passageiros, principalmente por Geisa, a professora que tragicamente morreu, grávida, com um bala de Sandro e três de policiais despreparados.


Mas além da operação mal sucedida da polícia (lembram do caso Eloá?), do assalto ao ônibus que já é rotina, da história de rua do Sandro na qual se tropeça a cada esquina, há uma coisa no filme que nos faz mergulhar na mente doentia do jovem, pensando que a nossa é tão demente quanto a dele. A diferença é que não conhecemos a fome - não no sentido do miserável - nem as chances perdidas que fizeram Sandro conhecer Copacabana como um excluído. E me lembrei dos jovens que entravam comigo no Trensurb no ano passado, que cantam no trem pra ganhar um trocado e que em muitas vezes só esperam um sorriso ou palmas em vez de uma moeda. Mas os terráqueos-Et´s daquela lata velha do inferno mal veem algo além do nariz que cheirou rotina o dia inteiro. E os jovens entram e saem dos vagões sem ao menos terem sido notados.


Acho que a cada dia (ei, eu não acho, tenho certeza), nós cruzamos com um Sandro por aí. É aquele menino que te pediu uma moeda e tu não deste, porque um sociólogo estúpido disse que o piá vai gastar em drogas. Ora essa, então que seja na droga de comida que nos alimenta e nos incha a cada dia. Que seja num livro inebriante, que vicia mais do que cocaína. Que seja em um copo de coca cola, droga mais do que viciante (e carregada pelo caldo negro do capitalismo americano), mas que vá lá, mata a sede de vez em quando. Mas como sempre, é mais fácil negar a moeda do que tratar o problema.


Porque ok, tu negaste a moeda, e ao acelerar o carro e engatar a primeira, numa atitude hipócrita e degenerativa, vais dizer "tomara que um agente social tire esse pobrezinho das ruas". Ora essa. E acreditas em Papai Noel? E na tua benevolência? Acreditas mesmo? Que tal: "tomara que alguém pegue essa bomba, porque eu não tô com saco pra isso".


Enquanto tropeçarmos nos Sandros da rua, estamos passando por cima do direito à vida, constitucional, previsto em lei. A mesma lei do Senado, que agora quer aumentar o salários dos carguinhos de confiaça - uh, teta véia que dá certo! - dos 181 diretores (Q? Achaste que o SARNAey iria mesmo demití-los?????). A mesma lei que impera nas ruas, onde a humilhação dói mais do que a moeda negada. A mesma lei que protege bandidos de verdade, de terno e gravata. A lei do crime, que não faz só as vítimas da capa, mas as que jamais sairão no jornal. E jamais terão outro destino que não as pilhas de inquéritos do verdadeiro arquivo morto da lei brasileira.


Não faço de Sandro, aqui, um herói.
Mas uma vítima que nasceu no ditado que pau que nasce torto nunca se indireita.
Bem vindas, 1 milhão de casas. Até 2078, todas estarão construídas.
Enquanto os Sandros continuam na rua.
Um viva bem bonito à democracia! (Clap clap clap)

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