sexta-feira, 20 de março de 2009

Teoria da conspiração




Joseph tinha medo dos monstros que o cercavam. Criancinhas e monstros no porão, medo da cuca, do bicho papão. Uma mãe que o batia, um lombo que ardia, Joseph e suas armadilhas no alçapão. O incesto consumado, a prisão deliberada, o desespero da escuridão. E por 24 anos, o porão virou a casa, a casa virou prisão.


Todos os dias, os casos de incesto e violação dos direitos da criança acontecem aos montes no País. Mas quando a imprensa quer crimes em série, cavoca nas delegacias o que pipoca todos os dias na pilha de inquéritos que povoam as salas de investigadores de polícia. Estatisticamente, o reflexo passa a ser sempre o mesmo: o abusado na infância abusará de criancinhas. E assim por diante.


Se olharmos para nossa infância, veremos o quanto nossas atitudes de hoje são resultado da nossa criação. Sim, porque não me venham com a balela de "eu fui criado assim, mas não quero isso para meus filhos". Somos cria do mesmo sistema, podemos melhorar na dor, mas só quando já somos maduros o suficiente para não acreditar em príncipes, princesas e felicidade eterna. Enquanto crianças, absorvemos o que nos é ensinado e pasmem: faremos tal como (ou um pouco menos) com nossos filhos e netos. Até que as próximas 48 gerações não absorvam mais nossas mazelas.


Querem um bom exemplo disso? Em 2000, no dia 12 de junho, Sandro do Nascimento sequestrou o famoso ônibus 174 no Rio de Janeiro. Drogado e transtornado, fez 11 reféns e terminou matando a professora Geísa com 3 tiros. Um policial completou a tragédia acertando um tiro na cabeça da refém. Sandro, é claro, morreu a caminho da delegacia. Horas de tensão depois, era só o que restava.


Mas muito antes, mas muito antes mesmo, Sandro era uma criança comum, de sonhos comuns. E de cenas comuns. Viu o pai assassinar a mãe na frente dele. Sobreviveu à chacina da candelária, é negro, pobre, morou na rua e nunca entrou em uma loja. Sim, Sandro tinha motivos para odiar o mundo, e por isso, unicamente por isso, fez tudo aquilo que fez. E só quem não tem a capacidade de entrar em sua mente, de entender o que ele passou, pode apontar o dedo e julgá-lo pela atitude descabida.


Não estou aqui defendendo os Joãos, Pedros, os Sandros da vida. São vítimas como eu, você, que escapam de um assalto todos os dias. Que enxergam o mundo pela ótica contrária, no outro lado da moeda. Da mesma moeda que esperam na sinaleira.


Não sejamos mais hipócritas e bestas de achar q somos a maioria no mundo. A maioria está ali, na rua, na miséria. Amargando a impunidade dos malditos 181 diretores do Senado, que se alimentam de salários milionários para ficarem apenas escondidos sob o manto da fortuna. Aceitando que a corja do governo coma nosso dinheiro sem ao menos dar um posto de saúde em troca. Mendigando auxílio desemprego quando 40 milhões de reais foram desviados a contas no exterior. E se apontamos na rua os que roubam pela revolta e pela vontade, onde foi parar a nossa capacidade de julgar os que matam às escondidas, ganhando milhares de reais na regalia, enquanto uns morrem em filas de Hospital?


Benditos sejam os hipócritas que aceitam tudo e nada fazem.

Porque é deles o reino da mediocridade.


P.S.: aos mesmos que bateram panelas em frente ao Edifício London por Isabela Nardoni (alguém lembra dela?), favor esconder as sinetas em relação ao caso Joseph Fritzl. Olhem para o sofá da sala. Pode ali estar sentada a pequena Elisabeth.

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