quarta-feira, 11 de março de 2009

Embarque de uma passagem só.




Hoje me senti num barco vazio. Não sei porque, mas senti. Um sentimento estranho e opressor, que me fez chorar no final do dia.


Fiquei até o final da tarde pra suprir a falta da repórter, que estava com conjuntivite. A sala ficou levemente escura, já não mais no horário de verão, onde o final de tarde era bonito de ser ver ali para os lados da BR.


E quando fui recolher um papel no chão, viajei no tempo quase que instantaneamente. Me vi ali, cabelos ainda crespos, debruçada em cima de uma cópia de um processo, de mais ou menos 800 páginas. Como réu, estava Luis Henrique Sanfelice. Dali a alguns dias teríamos o Júri que parou o Centro Universitário Feevale. Me lembro bem. 14 a 16 de dezembro de 2006. Dias em que eu não comi, não bebi, não fiz nada que não fosse me debruçar sobre aquele processo. Lendo e sugando cada palavra dos depoimentos de um dos crimes mais bárbaros e terríveis que NH já presenciou.


E me deu um aperto no peito, dessa época boa e singela que vivi, da reportagem pura e visceral. Da curiosidade imprimida em cada detalhe. Saudade de ser só repórter, como se isso fosse "só". Quando eu era apenas vista do meu trabalho e me esforçava ao couro pra conseguir boas reportagens. Quando ia pra rua (no bom sentido) pra catar coisas diferentes, os meus "furos" que me orgulhavam. A metida nas causas mais impossíveis. Levando "pito" de Excelência, Sr. Juiz, por falar ao celular durante audiência. Saudade do meu bloco de capa azul, que hoje está completamente detonado. Saudade da caneta vermelha que eu achei no chão de uma casa invadida. E saudade do meu crachá com foto assustadora.


Quando voltei a mim, lá estava eu, decepcionada por algumas coisas, orgulhosa de outras, cabelos já lisos, vários dos fios já brancos, e 3 anos depois, armando estratégias para um bom desempenho de uma rádio que me acolheu de volta e da confiança que me foi depositada. As vezes, no fim do dia, você só quer ser ouvida e chorar um pouco, para liberar a pressão. E é bem ter amigos ainda que carregues a marca da bruxa, da "pé no saco com salto agulha". É bom saber que ainda que de forma torta, tu estás ali, firme como uma rocha, suportando as coisas mais escabrosas e patéticas possíveis.


Porque uma vez me disseram que em todos os lugares será assim.
E que em todas as situações, os que tiverem o tanque cheio de gasolina irão adiante.
Os demais ficarão no acostamento, sinalizando por uma carona que nunca virá.

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